sábado, 18 de agosto de 2012


Acordei-me ao som do sabiá laranjeira. Despertei mergulhando em sonhos. Um acordar para dentro, recordando a primavera de minha alma.

O canto do sabiá prenuncia a primavera. Não a humana – essa cheia de cálculos e previsões – mas sim, esse despertar cheio de encantos vindo das profundezas da terra, por longo tempo adormecido nos braços de Hades. 

Ah! Querido sabiá, que através desse canto, é convite e portal. Transporta-me a um sonho construído ao som de cantos passados. Recantos, recônditos de minha alma. Saudade renascida e assassinada no ato da própria lembrança. Sonho que para além de imagens é, antes, sensações, desejo e realizações.  Condensa nesse instante do sonhar, o retorno ao território do pretenso primórdio. Sonho que não é realidade, mas existência, meta existência.  Silenciamento do corpo físico em detrimento de um encontro com o essencial. Vivência do idealismo platônico? 

O canto do sabiá não é apenas som é minha alma em ação, é meu corpo silenciado com gritos e rebuliços internos. E nessa melodia encontro fonte, água, amor. Já não sei quem sou, ocupo o todo. E a música já não vem de lá, ela está aqui. Eu sou a música, a fonte, a água e o amor. E a fonte jorra amor escorrendo em forma de música. E o amor derrama melodias da fonte.  A fonte de água canta amores. E os sons gotejam da fonte o delicioso amor. E a água verte amores como fonte de música. E o amor pulsa como fonte pingando melodias. A música canta amores desaguados da fonte. E da fonte amorosa eu bebo melodias. E melodias transbordam fontes de amor. E o amor é canção de uma fonte que jorra... Sou fonte, água, melodia e amor. E me transporto de um ao outro em curta fração de tempo. E o tempo é cada vez mais curto, E de tão curto o tempo, esse um está no outro, e o outro já é esse um. Não há mais tempo, não há mais um nem outro, não há fronteira. Não me pertenço, sou um não-eu. Sou existência.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012


Immortal

I am here to protect you from the curse of solitude
You are safe now nobody's going to hurt you anymore
I am here to refill the empty in your soul
Let us fix all your trouble to getting in control


Nobody knows what heaven holds
I only guide you to this goal
You have to find your way
'cause no one knows the answer


Don't be afraid heaven will wait
For all those ones who acted right
No more tears and pain
I promise you won't suffer


I am here to recover all the damage in your heart
You can trust me, nothing's impossible; i've watched you from the start
I am here to relive the sadness in your eyes
Take my hands let's fly together a leap into the void


Nobody knows what heaven holds
I only guide you to this goal
You have to find your way
'cause no one knows the answer


Don't be afraid heaven will wait
For all those ones who acted right
No more tears and pain
I promise you won't suffer

Dançando entre a decepção pelos jovens fugazes
E alegria de retornar a meu fiel companheiro
Um chamado me convoca

Eis que surge nas sombras da noite
O maligno aracnídeo
Entre a fuga e o enfrentamento
Extraviei minutos sagrados
Aracnídeo astuto
Com uma única palavra me deu o maligno bote

Ah! Sempre temi as aranhas
Adivinhava nesse medo o meu futuro
Uma aranha me picou
E aqui estou inebriada em seu doce veneno

Tece em meu corpo seus fortes abraços
Engolindo com beijos meu fraco fôlego
Você me envolveu em sua teia
E eu perdi minhas resistências

Com minha última força tento fugir
Mas na exaustão dos delírios
causados pelo teu delicioso veneno
O que me sobra é a plena entrega

E mesmo que eu sinta medo
Já não recuso mais os teus laços e abraços
São teias que me envolvem e me prendem

Já não me pertenço
Sou parte do emaranhamento de tua teia
Ah! Maldita aranha
Aproveite e Devora-me




segunda-feira, 23 de julho de 2012



Forlorn Hope

An old man is proud,
But behind his modest smile lies the grief
Only one picture of his brave son remains

It seems that the vicious circle can never be broken through

The hopeful ones gathered their strength to achieve the apparent impossible
But all plans seem to be in vain

As a soldier of Allah he's an example
For the others on his bloody way to immortality

It seems that the vicious circle can never be broken through
Because old wounds are reopened every time

This Intifada as a device to thwart the peace negotiations

He can rely on a reward in the hereafter
Eternal paradise awaits him

(Yitzhak Rabin)
"The peace that was born today, gives us
all the hope that the children born today
will never know war between us,
and their mothers will know no sorrow.
Allow me to end by the simple words:
Shalom, Salaam, Peace."

Pugnacity
With our blood
Show no mercy
With our soul
Die for heaven
An eye for an eye
Burn to let them...
Suffer for all their actions

We will not move an inch
They won't play in our hands
We will not tolerate those who defy

We will not hesitate
To start an attack if,
You undermine the agreement

Let them suffer
Stop to let them suffer!

Retornando


Ah querido Hades volto nesta data para teu obscuro coração
O único do qual sou realmente fiel

Nessas férias estive brincando
E assim como em velhos tempos
Capturei um punhado de jovens vitimas
Na busca de vigorosos prazeres

Mas quem disse que a juventude é vigorosa?

Ah! que decepção!
Encontrei Jovens broxas temerosos da recusa
Tentam compensar suas deficiências com arretos sofisticados
Que em nada me satisfazem
No máximo uma cosquinha momentânea

Eu quero a Violência da paixão na sua mais intensa dureza
Eu quero todo o olhar e todo o folêgo do amante
Debruçados em meu corpo e alma,
sufocando-me com as delicias da dopamina
Quero sentir o peso da Grande Vontade

Me cansa esses jovens inseguros
Que escorrem como geleias ao meu primeiro Ataque
Me cansa essa geração sem Vontade
Que aceitam o fácil para não precisar lutar pelo difícil

Pulam de beijo em beijo
sem contemplar um horizonte de Desejo
Seus desejos são parvos para ocupar o Horizonte
Ele é muito grande para suas pequenas almas

O que me sobra diante de tantos moribundos?
Sugar-lhes de seus lábios uma pequena gota de vida
A única que resta, e nada mais...

Carcaças a decorar as paredes de nosso Perverso Castelo

Destinado àquele, que junto comigo, reina no trono de meu castelo, e me satisfaz dia e noite: Hades




sábado, 21 de julho de 2012


Por longo tempo fui rotulada de possessiva e sufocadora
Sempre senti meu intenso desejo incompreendido
E quase nada correspondido

Eis que agora, tenho a meu dispor, 5 jovens amantes
E só dessa forma sou a  amante tranquila, desapegada e despreocupada
Será eu a sufocadora?
Ou os homens fracos, para dar conta sozinhos, de meus intensos desejos?

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Maldito Tango


Foram dias aconchegando-me nos frios e macios braços de Hades
Neguei todos os convites em fidelidade ao meu actu-amore
Mas nessa noite fria uma pequena maldade me acometeu

A Sombra em mim,
entediada do seu descanso nos obscuros recantos de minha alma
Levantou malignamente de seu repouso
Abrindo o salão de festas de seu perverso castelo
Ressoando seu maldito tango de sedução
Desejosa de sentir o desejo alheio em frustração
Fugimos da escuridão afetiva em busca da vítima perfeita

Ali estava ele, jovem, ingênuo em seu silêncio ansioso
Olhos serenos e lábios incontidos
Desejosos do beijo amoroso
A pele ainda coberta pelo véu da inocência
Luminosa e tenra pele juvenil

Atira-se a palavra certa
Pretensamente afiada em sua eficácia
Onde foi parar o semblante sereno e juvenil do ingênuo amante?
Fisga-se sim um Jovem e Vigoroso Demônio
Ressoando no ar seu chicote de Vontade

Demônio que a longa data espreitava-me
Estudando meus passos e compassos

Maldito dominador de afetos,
chicoteia em minha obscura existência  seus desejos intensos
Assustando-me e acuando-me para o canto passional
Maldito dominador de afetos
Finge ceder 1 para avançar 3
Vai me cerceando, me encurralando sem deixar saídas
Onde queres me levar? O que queres de mim?

E entre passos de avanços e recuos
Sob a música tensa de nossas vontades
Dançamos juntos deliciosas horas
Afinando nossos desejos e afetos

Ao som desse Tango maldito meu Castelo de Perversões
vibra aos passos dessa deliciosa tensão a dois

Meu coração resguardado foi invadido e dominado nessa noite fria
Meu coração é teu troféu pela sábia jogada
Ahhh Vigoroso Demônio!
Cuide bem desse maldito coração Herético!

domingo, 3 de junho de 2012

Damn Laser Vampires - Saint Of Killers



A Ray of light on your memory
will show you
You're not the kind of creature
they think you are
When you pass through
some darkness
You leave youth behind yo
uLike a serpent gets rid
of its bark
Down with joy under consent
of nature
Up with your duties,
no more time for cold feet
There's no other truth
but your own
You're full of an
irrational ache to be
The haunting that rides
the twilight
The whispering undead spitfire
Something more
truthfully heartless
Than people's half-life
emptiness
And if one day a new chance
you receive
Then you could waste it
just the way they did

Extremista


Em meio a tantos afetos esqueci quem sou
Será eu o amor idealizado?
Ou o olhar carinhoso e desinteressado que te abraça?
Ou será eu, o terrível desprezo que te esmaga?
Onde estou em tantos extremos?
Estarei eu possuída por algum demônio ou anjo?
Ou será eu que possuo o demônio para vociferar?
E o anjo para com suas asas voar?

Quero teu amor, e tendo ele, quero a tua destruição.
Desejo-te com todo meu nojo possível.
Detesto-te com toda minha paixão possível.

Ah! Afinal o que quero?
Meu coração é um campo de batalha
E dia após dia mato-me um pouco mais
Ah! Afinal o que não quero?
Meu coração é um oásis
E dia após dia rejuvenesço mais e mais

Meu extremo amor é a bala da roleta russa
Meu extremo ódio é a semente que germina
E através de tantas extremidades
Realizo em mim o meu inferno e meu paraíso
E não fujo do terror e da delicia dessas intensidades
Mergulho com minha alma naquilo que me dilacera e me recria
E com a mais pura veneração Idolatro em mim meus Deuses e Demônios
Fazendo deles os governantes de meu Desejo e meu Destino
Reinem em mim o que vocês têm de melhor e pior
Porque da minha vida jamais farei o caminho do meio

Sou Border
Sem Medo
E muito sem-vergonha

Destinado a todos Extremistas: Juntem-se a mim e darei à vocês um mundo em Chamas! 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Verdade do dia: Não nasci para abraçar e comer restos alheios, se vem para mim que venha inteiro. Bagaço afetivo eu passo adiante...

segunda-feira, 14 de maio de 2012




"O teu olhar é flecha inflamável que perfura
O pulsar de minha existência em brasas
Juntos somos explosão, destruição, criação"

Àquele que com sua alma Lupina uiva em meu coração me fazendo tremer
Maldade do dia: "Conquanto não esteja sentindo-se realmente oprimido, é estratégico colocar-se no papel de vitima para aniquilar com culpa o psiquico do pretenso opressor"

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O prazer de não voltar


Sinto medo do que se esconde por detrás de minha alma
Pressinto algo frágil e intenso
Não sei se é dor ou amor

O que há em mim que não consigo olhar?
Serão fantasmas de meu passado a me assombrar?
Ou o obscuro sentido da vida a me esperar?

Eu vivo intensamente a me ocupar
Mas os olhos em mim me espreitam dia após dia
Eles estão sempre lá do fundo de minha alma
Depositando em mim o peso do seu contemplar

São olhos fixos, frios, silenciosos...
Que eu não sei interpretar
Quero sons, gostos, cores e distração
Para nessa Sombra não ter que penetrar

E quando sozinha deitada no silêncio de meu quarto
Obrigo-me a ouvir o grito silencioso do teu olhar
Sinto angustia e pavor
O silêncio do teu grito faz minha alma arrebentar

Porque me olhas tão fixamente?
O que queres de mim Sombra Maldita?
É por ódio que me encaras?
Ou por amor que me olhas?

Tenho medo de ti
Tenho medo de onde podes me levar
Tenho desejo de ti
E no teu mundo quero mergulhar
E de corpo e alma quero me entregar

Receio nas Sombras de teus braços cair
E nunca mais voltar

Deliciosamente
Nunca mais voltar

Loucamente
Nunca mais voltar

Mortiferamente
Nunca mais voltar

Nunca mais voltar

Destinado àquele que me possui em seu obscuro abraço de dor e amor de criação e destruição: Hades

terça-feira, 3 de abril de 2012

Actu-Amore


Olhava Deuses nesses corpos febris
Eram lagartos sujos a arrastar-se por esse mundo
Decepções e frustrações esmagavam meus ideais divinos

Deuses eram meus olhos prateados
a projetar em lagartos os reflexos de minha alma
Você sempre esteve aqui na Sombra
A contemplar meu desatino

Espiava-me por detrás de meus olhos
Você o amante árabe, o Diabo, o nômade, o vampiro
Escondia-se na carne de meus lábios e no desejo de minha pele
Você o ardente latino, o erótico, o amor, a paixão em essência pura

Tranquilamente me esperava
Enquanto eu saia a errar nesse mundo de decrépitos lagartos
E toda a noite você deitava com meu corpo nu
Beliscando minha alma com anseios amorosos

Cansada de procurar, cansado de esperar
Arrastou-me com violência
Para escuridão de teu mundo
E da explosão de nossos impulsos reprimidos
Devoramos nossas carnes

Somos o pecado materializado
O vício, o estupro, o genocídio

Sempre interpretamos a violência de nossos desejos
Sem julgamentos e moralismos
E de nosso ciúme possessivo
Fizemos momentos de intenso prazer

De nossas palavras afiadas
Cortamos a distância de nossas almas
E de nossos ódios e raivas
Envolvemos com sangue os nossos corpos
Deleitando-nos nas dores e prazeres da carne viva...

E agora unidos nesse único corpo
Dançamos ao ritmo erótico de nossas almas entrelaçadas
Você-Eu rindo-nos desses lagartos sujos que babam
Esmagando com nossos olhos-chumbo a carcaça desses estúpidos répteis

Juntos construímos nosso castelo de Heresias
E na Sombra de nossa alma realizamos infinitos pecados
Venham lagartos, decorar com vossas carcaças
As paredes de nosso perverso castelo

Venham lagartos... venham... 

- Destinado a todas as Lagartixas que se dizem Homens - 

domingo, 15 de janeiro de 2012

Thanatos



Glaucoma on your eyes
Plague to weather
Until they run dry

Ages of delirium
Curse of my oblivion

I swell without a scar
To the end of time
A shell without a star
At the end of time

Watch the bend of my wandering
Of hunting with the lightning gun
Tremor on my heaven son
Tares above my kingdom come

Torn open tomb
I fell in your
Cold fission bomb
I fell in your war

Ages of delirium
Curse of my oblivion

Tremor of my heaven son
Tares above my kingdom come

sábado, 14 de janeiro de 2012

Segunda-feira

Entre as buzinas de carro do final da tarde daquela segunda-feira estava eu a caminhar lentamente, sem pressa, sem rumo.

O céu estava azul e finos raios de luz banhavam o verde obstinado de algumas poucas árvores. Ao longe, perdido em meio aos violentos automotores, escutava-se o canto melancólico do sabiá laranjeira. Pendurada, entre os muros de um edifício, uma florzinha acenou timidamente para mim, sorrindo com seu alegre amarelo. E junto a ela um mosquito paquerador fazia sua dança em zigue-zague.

Todos eles taciturnos – com exceção do canto melancólico do sabiá- convidavam-me a viver um outro mundo, um outro tempo. A vida estava ali, fazendo-se presente para aqueles disponíveis a olhá-la e a escutá-la.

Hoje naquela tarde, sem pressa e sem rumo, eu vi e escutei. E vi ainda mais: no turbilhão infernal de pressa, objetivos e destinos eu me vi em tantos outros dias. Um sorriso malicioso brotou de meus lábios satisfeito em rir de tantos destinos áridos, construídos com o sacrifício de uma simplicidade tenra e prazerosa.
E assim continuei a caminhar, sentindo meu pés pisarem o asfalto daquela cidade psicótica e ainda assim repleta de divinos segredos revelados.

    Andei sem rumo deixando apenas minha vontade momentânea guiar minhas escolhas nas encruzilhadas. E minhas vontades não pesavam nem pensavam de forma lógica ou racional, simplesmente eu me guiava pela luminosidade que me agradava, ou pelo cheiro ou por uma sensação inexplicável que me puxava. Caminhei talvez uma hora, foi quando sem rumo me deparei com a estação de trem. Não havia mais ruas para escolher, mas destinos sim. Entrei na estação e o primeiro trem que apareceu eu entrei. Pouco me importava para onde ia. Naquele momento eu apenas desejava estar lá de corpo e alma presentes. Esse foi o destino que escolhi.

    E foi assim nessa existência intensa vivida a cada segundo que consegui me sentir e sentir os que estavam juntos a mim. Nós todos em deslocamento a uma outra cidade, deslocando-nos mas parados. Uma quantidade de seres exprimidos em um retângulo de alguns metros. Cada um com sua vida, amores, tristezas, medos, esperanças, mas todos juntos no mesmo vagão de trem.

    Eu estava ali consciente de mim e deles, dessa unidade que fazia de nós os passageiros de um trem, de uma época, de um lugar... Mas e eles? Via aflições, anseios e gozos nos diversos rostos, cada um envolvido na sua pequena e medíocre bola de afetos, completamente distanciados daquele instante, dos presentes e de si, ansiados pelos minutos seguintes ou passados, atropelados pelo tempo que se foi ou que não veio. Quantas vezes também não estive assim? Quantos não deviam ter me lido nas escritas de minhas rugas emaranhadas de meu bolo afetivo?

    Vivi a curiosidade da criança que brincava com o bigode do avô enquanto o mesmo dormia com a boca aberta, senti o beijo apaixonado do casal que mergulhados em seus desejos esqueceram os ali presentes, senti a aflição da senhora a esperar a ligação no seu celular, senti o medo do jovem rapaz que provavelmente pegava o trem pela primeira vez, e a felicidade dos jovens a conversarem sobre o encontro que teriam no dia seguinte.

    Hoje eu não fui simplesmente eu, hoje eu fui um pouco de cada um dos que perpassaram meu campo existencial. Senti-me pertencendo a um todo. E olhar os objetivos rotineiros humanos me pareceu algo muito insignificante. A felicidade em mim por viver esse todo era muito superior a preocupação de pagar um conta, ou de terminar um relatório ou qualquer baboseira dessas que o ser humano se impõe em prol de nada, aliás, em prol de deixar de viver.

    Desci na ultima estação do trem, o sol se despedia com seus finos raios dourados, beijando meu rosto com suavidade. Ouvi um grilo trilando ao longe. As luzes da rua começavam a acender para iluminar a noite que se acordava com seu véu escuro.

    Eu caminhava em um bairro residencial e as ruas estavam tranqüilas e vazias. Eu via uma grande movimentação dentro das casas, era o barulho da TV, de pessoas conversando e de talheres em movimento. Sentia-me acolhido por aqueles caminhos tão familiares com seus jardins e calçadas floridas.

Naquelas ruas sem nada e a ninguém conhecer, passei em frente a um boteco em que um velho regado a aguardente tocava seu violão tradicional. Fiquei ali, de pé e esquecido de mim, embalado por aquele som que me ninava em doces lembranças da minha infância. Com um sorriso e uma levantada no copo, ele me convidou para eu me aproximar. Não hesitei ao convite e logo sentei-me ao lado dele. O velho começou a cantar uma música suave e dolorida sobre a desilusão de um amor, e começaram a escorrer lágrimas de seus olhos. Chorei junto lembrando de meus recentes amores perdidos. Mas secas ás lágrimas, começamos a cantar hinos de alegria. Juntaram-se a nós mais um e outro e terceiro. O dono da cantina sentou junto a nós naquela mesa de madeira rústica e ali ficamos a cantar e a contar as histórias de nossas vidas, bêbados e felizes, rindo e de vez em quando choramingando algumas dores e nostalgias.  Sempre acompanhados pela viola e a quente aguardente naquela noite fria e estrelada. A lua como um gigante disco dourado espreguiçava-se cheia de vida no horizonte. E com aquele brilho todo ela me convocava a continuar andarilhando aquelas estreitas ruas. Sem despedidas e como gato fugidio sem ser notado, deixei os velhos boêmios em sua algazarra alcoólica.

Ainda com os passos ébrios segui a estreita rua cambaleando de quando em quando. Tropecei derrepente numa pequena caixa que gemeu de forma aguda e dolorosa. Temeroso do que poderia conter a pequena caixa, meus dedos trêmulos a abriram de forma cuidadosa, e encontrei dentro dela - quase sufocado num saco plástico - um pequeno gatinho amarelo malhado de no máximo 2 meses de vida. Meu coração pesaroso segurou o bichano, com todo cuidado possível, colocando-o de encontro ao meu peito para esquentá-lo.

Como poderia alguém dizer-se humano tendo deixado aquele pequeno ser em tal situação?

Segui a rua com o bichano no colo, acariciando suas orelhinhas geladas, e ele retribuía o carinho ronronando baixinho - agradecido e aliviado da situação que escapou. Ao final da rua escutei um som alegre, vozes felizes e risos calorosos a esquentar o silêncio frio daquela noite. Era uma festa de crianças. Conforme eu me aproximava as crianças correram na minha direção, curiosas para saber o que eu trazia no colo. Questionavam o que era, o que tinha acontecido, se estava bem. E ficaram completamente mudas e paralisadas quando eu disse que largaria o bichano no chão para elas o verem.

Quando larguei o gatinho no chão as crianças tinham os olhos muito abertos e fixos nele. Foi um silêncio absoluto. E o bichano por sua vez deu uns três passos bamboleando entre um cai-não-cai, parou estagnado examinando tantos olhinhos a contemplá-lo. Foram alguns segundos de profunda expectativa silenciosa. As crianças quase não respiravam. E o bichano com sua graça e sagacidade felina rompeu o silêncio do momento com um miadinho tão engraçadinho que as crianças de forma uníssona dissiparam a tensão com um esplendoroso: “Ohhhhhhhhh”!!!!

A partir daquele momento o restante foi só festa. Todos queriam pegar o gatinho e o mesmo aceitava sem restrições as pequenas mãos a tocá-lo, aliás, incentivava as caricias sempre ronronando cada vez mais alto parecendo um motorzinho em funcionamento. As crianças correram para a festa me puxando pelos braços enquanto uma delas carregava o gato no colo. Levaram, o gato e eu, para nos apresentar para os pais, donos da casa, em que a festa acontecia, que por sinal eram os pais do menino que carregava o bichano. Chegaram todas berrando ao mesmo tempo emocionadas com o achado. Os pais do garoto comentaram que estavam há algumas semanas procurando um gato para adotar e perguntaram se eu não gostaria de doar o bichano para eles. Fiquei muito feliz com o pedido pois em realidade eu não teria como ficar com mais um gato (pois já tenho quatro em minha casa).  Tal foi a felicidade de todos quando eu disse que doaria o gatinho para eles. As crianças fizeram uma grande algazarra e os pais me convidaram com insistência para que eu ficasse na festa, e sem que desse tempo de eu responder a criançada me arrastou pelo braço para o jardim, enquanto um já me servia refrigerante e outra pegava um doce para me dar.

Ficamos lá degustando as guloseimas quando então eu disse: Temos que pensar em um nome para o gato! Então todos começaram a sugerir: Mimi! Bolinha! Malhado! Leco! Razuna! Pipoca! Mas parecia que nenhum nome agradava a eles e ao bichano. Fizemos silêncio e ficamos olhando para o gato foi quando o mesmo tropeçou numa pequena pedrinha escondida no gramado dando uma cambalhota engraçada. Todos riram muito e o gato miou junto. Então alguém disse: “Tropeço! O nome dele vai ser Tropeço!” E o gato miou ronronando. Todos gostaram da idéia: “Tropeço! Vem Tropeço!” E o Tropeço com o rabo em pé foi. As crianças para comemorar o batizado do gato começaram dançar e cantar criando um hino para ele, que agora seguia embalado a cada momento no colo de algum deles.

Eu dançava com as crianças esquecido de meu tamanho, da minha idade e das máscaras sociais. Sentia meu corpo mover livre, inteiro, presente. E sob minha pele o vento e o tecido brincavam graciosamente sensíveis.

Vendo as crianças entregues em seu bailar, fui me afastando vagarosamente e em silêncio. Tirando retratos com meus olhos e registrando tão linda cena nos arquivos de minha memória. Ao longe dei ainda uma ultima olhadela para trás me despedindo de vez daquelas pessoas que provavelmente nunca mais veria, mas que agora faziam parte da minha história existencial.

Estava cansado mas muito satisfeito. Decidi voltar para a casa e segui em direção a estação de trem. Mas chegando lá não havia mais trem naquele horário e sem dinheiro no bolso tive que seguir a pé alguns bons quilômetros até minha casa. E nesse trajeto eu vi pessoas que passavam fome e frio. Presenciei casais que brigavam, cortando com palavras afiadas, as veias amorosas que um dia tiveram conectadas. Olhei os cães de guardas do Estado cumprindo sua missão de farejar e aniquilar as alegrias alheias. Admirei casais amando-se perdidos entre lábios, abraços, beijos e braços. Lamentei o animal expirar-se em dor embaixo de uma roda de carro mergulhado em suas próprias vísceras e sangue.  Enxerguei o padre furtando a fé e esperanças alheias. Testemunhei as alegrias e desesperos humanos em uma caminhada.

     Há muitos que se queixam das segunda-feiras, mas os mesmos transformam seus dias em suplícios sem sentido, passam seus dias escondidos atrás de gravatas e relatórios, anestesiados por cafeína e o mal gosto de vestir-se e comer o que não desejam. Voltam para suas casas e deixam de viver suas vidas para se entregarem a vida de personagens de novela, ou a tragédias do telejornal, sempre adaptando-se as leis externas, não criam não transformam, simplesmente se arrastam submetidos ao peso do que não é seu...

Muitos dizem que me arrisco, que me exponho em situações de perigo, ainda mais porque sou uma menina. Para esses eu olho com piedade por ver a pobreza e a fraqueza de suas vidas que necessita de proteção constante para se manterem vivos, do contrário sucumbiriam ao primeiro instante de liberdade. Pobre de vocês que não conhecem a vida, suas pernas e almas frágeis não suportariam uma caminhada numa segunda-feira.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ange sans Ailes: TU ES FOUTU!




Tu m'as promis
Et je t'ai cru
Tu m'as promis le soleil
En hiver et un arc en ciel
Tu m'as promis le sable doré
J'ai reçu une carte postale
Tu m'as promis le ciel et la terre
Et une vie d'amour
Tu m'as promis
Ton coeur ton sourire
Mais j'ai eu des grimaces


Tu m'as promis
Et je t'ai cru


Tu m'as promis le cheval ailé
Que j'ai jamais eu
Tu m'as promis le fil d'Ariane
Mais tu l'as coupé
Tu m'as promis les notes de Mozart
Pas des plats cassés
Tu m'as promis d'être ta reine
J'ai eu pour sceptre un balai


Tu m'as promis
Et je t'ai cru


Tu es foutu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu es foutu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu


Je ne sais pas
Ce qui se passe
Mais je sais pourquoi
On m'appelle
Mademoiselle pas de chance


Tu m'as promis
Tu m'as promis
Tu m'as promis


Tu es foutu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu es foutu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu


Tu m'as promis
Tu es foutu
Tu m'as promis
Tu es foutu

ANGE SANS AILES: TU ES FOUTU!