segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Para os Seres de "Bem"

"Eis aqui, porém mais uma prudência com os humanos: Não quero privar-me do espetáculo dos maus por timidez igual à vossa, seres de Bem.

Sinto-me feliz em ver os milagres que faz eclodir um sol ardente: tigres e palmeiras e cobras peçonhentas.

Também se vêm entre os humanos belas crias do sol ardente e muitas coisas admiráveis entre os maus.

Da mesma maneira que vossos sábios ilustres não me pareciam tão sabios, assim também encontrei a maldade ddos humanos inferior à sua reputação.
Na verdade, até para o mal há um futuro. E ainda não se descobriu para o humano o meio-dia mais ardente.

Quantas coisas hoje costumais chamar de as piores maldades, quando na realidade só tem doze pés de largura e três meses de existência. Algum dia, porém, virão ao mundo dragões maiores.

É verdade, justos e bons, há em vós muitas outras coisas que se prestam ao riso, especialmente vosso temor pelo que até hoje se chama "diabo"!
Temem a sí e as suas vontades. 

Vossa justiça e bondade se dá no julgamento e amputação de outros modos de existência. Oh! Seres de bem que condenam, estirpam e estraçalham vontades. Como vocês são bons!  

Eu encontro beleza em todas as existencias possíveis, sejam elas cobras peçonhentas, dragões ou diabos. Valorizo mais a intenção de existência do que as classificações das mesmas."

(Friedrich Nietzsche e Velha Sombra Herege)








Andei depressa para não rever meus passos
Por uma noite tão fulgaz que eu nem senti
Tão lancinante, que ao olhar pra trás agora
Só me restam devaneios do que um dia eu vivi

Se eu soubesse que o amor é coisa aguda
Que tão brutal percorre início, meio e fim
Destrincha a alma, corta fundo na espinha
Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir

Enquanto andava, maldizendo a poesia
Eu contei a história minha pr'uma noite que rompeu
Virou do avesso, e ao chegar a luz do dia
Tropecei em mais um verso sobre o que o tempo esqueceu

E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho com força, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer

E era de gozo, uma mentira, uma bobagem
Senti meu peito, atingido, se inflamar
E fui gostando do sabor daquela coisa
Viciando em cada verso que o amor veio trovar

Mas, de repente, uma farpa meio intrusa
Veio cegar minha emoção de suspirar
Se eu soubesse que o amor é coisa assim
Não pegava, não bebia, não deixava embebedar

E agora andando, encharcado de estrelas
Eu cantei a noite inteira pro meu peito sossegar
Me fiz tão forte quanto o escuro do infinito
E tão frágil quanto o brilho da manhã que eu vi chegar

E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho sorrindo, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer

(Destinado à aquele que faz meu coração arder) 

terça-feira, 9 de agosto de 2011


Entristece-me ver a fraqueza de espírito desses seres, que ao se depararem com suas vontades, negam-as pedindo permissões a seus pais e costumes. Incapazes de admitir seus desejos fogem e escondem-se atrás de regras, leis e absurdas justificativas. Atrevem-se a julgar, com suas línguas e mentes flácidas, a energia daqueles que exercitam o dom da Liberdade. Rancorosos de sua impotência maldizem do vigor dos que simplesmente Ousam e Existem. Escolhem cravar pregos em seus corpos e acham absurdo aqueles que não aceitam tal ato.

Seres assim é o que vemos por todos os cantos e em todos os tempos. São um rebanho uniforme de seres suicidantes, em constante ato de suicídio, o pior suicídio: o da alma. Vestem-se, comem, e comportam-se segundo o permitido e autorizado, completamente secos e estéreis de Imaginação e Criação. Envergonho-me desses seres que se intitulam humanos, quando nada mais são do que vermes que rastejam em direção ao mesmo abismo. Não é o corpo que lhe acomete uma doença, mas é a anemia de seus espíritos que lhes enfraquece a Passionalidade. Apavoram-se diante do Intenso, pois ele é ameaça para o fino e fraco fio que sustenta suas miseráveis vidas - pseudovidas.

Que os abutres lhes consumam logo suas carcaças! E limpem nosso mundo de tais dejetos. Carcaças pretensamente nomeadas de corpos.  Apenas túmulos vazios inexistentes de qualquer ser. Talvez quem sabe, e no máximo, algum microorganismo perdido e fadado a autocomiseração.

Sigo e existo, e lamento o tempo que perdi com esses tísicos de alma. Em principio inebriados com o fulgor de minha existência, aproximam-se desejando uma transformação. Mas seus desejos enfermos não sustentam tal ambição. Padecem diante do primeiro obstáculo, e aterrorizados correm para sua mesmice implorando conforto.

Ah! Criaturas pastosas! Eu sigo e existo, e em cada passo me satisfaço, até mesmo em cima de vossos cadáveres. Além de tudo o mais que posso ser, também sou a Necrofilia, e eu me excito e gozo em cima de vossas Mortes!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Quando eu pensei que estava perdendo meus critérios, 
descobri que na realidade recém eu estava os criando!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Sobre a normalidade

“Afinal o que é ser normal?”


O que questiono aqui tenho a consciência de que não é nenhuma novidade. No decorrer da história da humanidade muitas pessoas já estiveram a pensar a normalidade de sua época. Esse questionar as vezes surge espontâneo sem a influência de outros. Eu mesma no decorrer da minha curta existência por diversas vezes me encontrei e me encontro nesse estado de contemplação e indagação sobre a normalidade, sobre o que é ser normal. Nos primeiros momentos que tal dúvida surgiu em minha mente acreditei ser eu descobridora de uma dúvida até o momento impensada... mal sabia eu, que quase todos os seres humanos em algum momento de suas vidas também se encontram nesse estado de indagação. A diferença entre uns e outros, é que alguns, logo desistem desse estado magnífico de dúvida para caírem em um fatalismo naturalista de que o normal é o que está ai e dado, enquanto outros perseveram em tais dúvidas descobrindo o relativismo sobre as pretensas Verdades humanas, encontrando assim muitas outras formas de vida e de viver.

Também já é de se pensar que se tantos seres humanos em algum momento da vida se questionam sobre o normal é porque talvez ele não seja algo assim tão natural, tão determinado.


         Mas se não é algo natural, então o que é o normal?

Primeiro é importante darmos uma volta ao passado de nossa existência como ser humano e olhar criticamente tal passado. Lá vamos encontrar tão diferentes formas de pensar e viver que para nós hoje seria incabível. E porque naquela época não era incabível? Simplesmente porque era Normal. Vejamos um exemplo: A escravidão dos negros. Hoje mesmo, eu penso que várias coisas que fazemos aqui e agora e que são consideradas normais, talvez no futuro serão abominadas e estudadas como formas bizarras dos seres humanos de nossa época. Um exemplo (eu teria milhares de exemplos para dar): Hoje o ser humano força animais a se reproduzirem (muitos naturalmente não teriam mais condições de tal reprodução) simplesmente porque pertencem a uma raça, e vendem tais animais como mercadorias, e há aqueles que compram essas “mercadorias” dizendo que se preocupam com a vida deles, quando existem milhares de outros animais espalhados por nossas metrópoles sofrendo, precisando de atenção e carinho e que poderiam ser adotados (gratuitamente) mas não o são simplesmente porque não tem RAÇA. Aff.... seres humanos assim, são os normais que vemos diariamente andando pelas ruas com seus animais acorrentados reproduzidos em laboratório. Nesses seres humanos não existe sofrimento psíquico... sofrer porque? se nem pensam em suas ações e nas possíveis causas que elas podem gerar? Mas eles são os normais... 



Assim como o conceito de normalidade pode ser relativo digo o mesmo para sofrimento psíquico. Muitos pensam que o sofrimento psiquico é propriedade dos "doentes", enquanto os "normais" não sofrem. Eu vejo o sofrimento psíquico por vários ângulos.  
 
Pensar no ser humano sem sofrimento psíquico e plenamente adaptado ao meio é pensar em um negro na época da escravidão, sendo “tratado” por um psicólogo que o ajuda a aceitar os grilhões que foram-lhe impostos pelo meio social. Teríamos então, um negro feliz, adaptado ao ferro que machuca sua carne e que tira-lhe aquilo que um ser humano tem de mais precioso e que justamente o faz humano: a liberdade.

 

Se pensarmos que vivemos em uma sociedade injusta, preconceituosa, desumana, indiferente aos seus reais problemas, eu até acho mais do que natural que exista sofrimento psíquico. Anormal é não sofrer! Nesse estado social não é de se estranhar que existam tantos suicidas, tantos paranóides, bipolares, borderlines, compulsivos etc... etc.. Eles estão reagindo da forma natural que se deveria reagir a tais acontecimentos. Estranho mesmo é aceitar tanta injustiça com tanta passividade como todos os ditos “normais” aceitam, isso sim é de se estranhar... Por isso não vejo os esquemas desadaptativos como algo ruim, simplesmente é uma forma de negar o que não faz bem. É o conflito do humano com o desumano que não pretende ser. 



O órfão não sofre pela ausência de um pai e de uma mãe, ele sofre sim por viver em uma sociedade que valoriza a idéia de núcleo familiar sanguíneo, ignorando os que não possuem tais núcleos... Podemos ver em muitas sociedades indígenas que não existem órfãos, pois o filho de um é o filho de todos. Nesse sentido o órfão em nossa sociedade não deve tentar remediar sua falta criando uma nova família, isso seria somente fortalecer seu sofrimento. Deve ele sim, tomar consciência de seu sofrimento e fazer dele uma luta contra aquilo que fez ele sofrer: o núcleo familiar sanguíneo. Ou seja, num mundo que não é nada social, a melhor forma de se adaptar é se tornar antisocial.

Penso assim que o sofrimento não deve ser eliminado, o sofrimento é a reação saudável em resposta a um mundo insalubre. Devemos sim trazer esse sofrimento para consciência, mas não para extirpá-lo (sabemos que isso é impossível) e sim fazer com que esse sofrimento consciente seja uma arma que deverá ferir e matar aquilo que faz ele existente. Vejamos um exemplo: Os homossexuais por muito tempo estiveram nas listas de classificações de sofredores psíquicos. Mas o possível sofrimento deles era advindo de onde? Apenas de suas cabeças “loucas e pervertidas” (como por muitos foram classificados)? Ou será um sofrimento advindo do conflito de seus desejos com uma sociedade machista e retrógrada? Quando eles criaram coragem para lutar contra esses preconceitos, contra essa sociedade acabaram por sair da maldita classificação e fizeram seus desejos (antes pervertidos), em uma opção para a humanidade. Seres humanos assim são os Imortais. Desejo que possam todos àqueles que há longos anos estão fardados a carregar rótulos tão pesados criados não sei por quem, que se revoltem com tais criadores e destruam seus preceitos e preconceitos, e se não podem os destruir, que façam se calar.