sábado, 21 de maio de 2011

Pequenina Semente

Sou prisioneiro de mim mesmo
De um corpo e uma vida que não escolhi
De uma história construída e protagonizada
junto a colegas disformes que não quis
Meu corpo involuntário reage
a um script que não escrevi

Minha alma pequena e suave
debate-se amarrada e sufocada
por músculos contorcidos de angustia
Tenho a carne endurecida pelo tapa
Enrigecida pela fome
Apodrecida pelo abandono e violência

Em minhas veias um fluido odioso
envenena pouco a pouco
meu espírito carinhoso
Um fluido algo-sangue
geneticamente monstrificado

Sou a marionete
do Passado Obscuro
que manipula meu ser
sem minha própria vontade

Pela vida afora
em outros e novos territórios
danço mecanicamente
a dança dos cadáveres
É a dança que não quis
Mas a única que aprendi

Vejo outros passos
belos e delicados dos seres angelicais
Ensaio alguns movimentos
mas meu corpo rígido
militar de uma figa
me obriga a dançar como os cadáveres

Minha família, seres fatais
Mortos de seu tempo
Aniquilados pela não vontade de ser
Me ninaram no berço da dor

Sou um fruto amargo e doloroso
De todos os loucos, esquizotípicos, alcoólatras, suicidas

Uma fruta estragada
Possuída pelo verme da deformação
Que precisa ser isolada
- com risco de contamição-
Das belas frutas produzidas nas boas árvores

Sou a diferença insuportável
A diversidade vergonhosa
O tabu que a todos calam
Sou o vivido proibido
A vítima estrangulada que todos ignoram
O humano ofendido que ninguém quer ver

Enquanto máscara social
Tenho amigos, amantes, companheiros,
Exalada minha essência natural
Sou dejeto de lixeira
Um vírus hediondo que precisa ser isolado

Mas em meio a esse fruto estragado
Carrego uma semente de força e vontade
Encontrarei um terreno solidário que a vingue?

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Eu queria viver, mas não sei
E ninguém me ensinou
Mas tenho vontade

Encontrarei alguém que tenha paciência?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Suícidio Afetivo


Praguejas uma Sombra
A projeção obscura
Da tua vontade que desloca

Velha Sombra
Cúmplice humana
Sombra Herege

Dançarina de tuas ações
Acompanhante de teus desejos
Espelho de tua alma

A palavra ácida que queima
Reverte-se na pele arrancada que arde
reflexo de um golpe desferido
ao obscuro coração herético

Machucaste os lábios
De quem te beija
Machucar a quem nos ama
É golpear a sí

Suicídio afetivo

(Destinado ao Diabo)

domingo, 1 de maio de 2011

Masturbando-me com o sangue do teu cadáver

A tua vontade me enoja,
A tua ação me repugna,
Mas venha querido,
Tenho um jeito especial de te amar

Me excita o teu medo e tua fraqueza
Me excita tua deformidade
Duvidaste de minhas intenções e tentações?
Sinta agora meus dedos que penetram na tua pele

Não grite amor, isso é prazer
Prazer para mim querido
Mas é prazer...
E eu te amo tanto
Adoro sentir a tua dor
A tua não vontade me excita

O teu último suspiro é o meu gozo
Você é só mais um
Morto no berço de amor e caricias
Da Velha Sombra Herege

(Destinado ao Diabo)

Sou MST

Sou Movimento dos Sem Território,
Movimento de ocupação afetivo
Eu não bato nas pretensas portas
Eu chego chegando, chutando doa a quem doer

Limites são invenções de alguns
E não respeito invenções mesquinhas
Limites são ilusões de controle
E eu manipulo e brinco com tais ilusões

Te ilude quando achas que é dono de ti mesmo
Você é apenas a materialização de algumas circulações afetivas

E gosto dessa materialização
Entro nela e agora faço parte dela
Me alimento dela
Tu goste ou não

Sou vampira de teus desejos
E você não controla isso
Você não controla nada
Estou ai tu querendo ou não

Estou ai mesmo que minha materialização esteja distante
E te dói sentir isso
Te dói sentir o teu pretenso território invadido

Mas foi você que me colocou ai
Então não brigue com minha materialidade
Ela não tem nada que ver com tuas decisões
Você não tem controle sobre tuas próprias vontades

Temes ser possuído porque em realidade
já perdeste teu pretenso controle
Assume a tua insignificância

Relaxe querido e deixe eu me lambuzar em ti de ti
Sou vampira das tuas vontades
E foi você que me colocou ai

E adoro esse teu coração quente e pulsante
E viajo em teu sangue, em teu corpo
Te fazendo tremer
Sou Movimento dos Sem Território
E hoje te ocupo em corpo e alma

Sou a Paixão que te devora
Que te invade e te descontrola

Relaxe bebê
Você é só mais uma vítima dessa maldita vampira
Deliciosa vampira
E estou te devorando tu querendo ou não
Então relaxe, relaxe bebezinho...

(Destinado ao Diabo)