domingo, 15 de janeiro de 2012

Thanatos



Glaucoma on your eyes
Plague to weather
Until they run dry

Ages of delirium
Curse of my oblivion

I swell without a scar
To the end of time
A shell without a star
At the end of time

Watch the bend of my wandering
Of hunting with the lightning gun
Tremor on my heaven son
Tares above my kingdom come

Torn open tomb
I fell in your
Cold fission bomb
I fell in your war

Ages of delirium
Curse of my oblivion

Tremor of my heaven son
Tares above my kingdom come

sábado, 14 de janeiro de 2012

Segunda-feira

Entre as buzinas de carro do final da tarde daquela segunda-feira estava eu a caminhar lentamente, sem pressa, sem rumo.

O céu estava azul e finos raios de luz banhavam o verde obstinado de algumas poucas árvores. Ao longe, perdido em meio aos violentos automotores, escutava-se o canto melancólico do sabiá laranjeira. Pendurada, entre os muros de um edifício, uma florzinha acenou timidamente para mim, sorrindo com seu alegre amarelo. E junto a ela um mosquito paquerador fazia sua dança em zigue-zague.

Todos eles taciturnos – com exceção do canto melancólico do sabiá- convidavam-me a viver um outro mundo, um outro tempo. A vida estava ali, fazendo-se presente para aqueles disponíveis a olhá-la e a escutá-la.

Hoje naquela tarde, sem pressa e sem rumo, eu vi e escutei. E vi ainda mais: no turbilhão infernal de pressa, objetivos e destinos eu me vi em tantos outros dias. Um sorriso malicioso brotou de meus lábios satisfeito em rir de tantos destinos áridos, construídos com o sacrifício de uma simplicidade tenra e prazerosa.
E assim continuei a caminhar, sentindo meu pés pisarem o asfalto daquela cidade psicótica e ainda assim repleta de divinos segredos revelados.

    Andei sem rumo deixando apenas minha vontade momentânea guiar minhas escolhas nas encruzilhadas. E minhas vontades não pesavam nem pensavam de forma lógica ou racional, simplesmente eu me guiava pela luminosidade que me agradava, ou pelo cheiro ou por uma sensação inexplicável que me puxava. Caminhei talvez uma hora, foi quando sem rumo me deparei com a estação de trem. Não havia mais ruas para escolher, mas destinos sim. Entrei na estação e o primeiro trem que apareceu eu entrei. Pouco me importava para onde ia. Naquele momento eu apenas desejava estar lá de corpo e alma presentes. Esse foi o destino que escolhi.

    E foi assim nessa existência intensa vivida a cada segundo que consegui me sentir e sentir os que estavam juntos a mim. Nós todos em deslocamento a uma outra cidade, deslocando-nos mas parados. Uma quantidade de seres exprimidos em um retângulo de alguns metros. Cada um com sua vida, amores, tristezas, medos, esperanças, mas todos juntos no mesmo vagão de trem.

    Eu estava ali consciente de mim e deles, dessa unidade que fazia de nós os passageiros de um trem, de uma época, de um lugar... Mas e eles? Via aflições, anseios e gozos nos diversos rostos, cada um envolvido na sua pequena e medíocre bola de afetos, completamente distanciados daquele instante, dos presentes e de si, ansiados pelos minutos seguintes ou passados, atropelados pelo tempo que se foi ou que não veio. Quantas vezes também não estive assim? Quantos não deviam ter me lido nas escritas de minhas rugas emaranhadas de meu bolo afetivo?

    Vivi a curiosidade da criança que brincava com o bigode do avô enquanto o mesmo dormia com a boca aberta, senti o beijo apaixonado do casal que mergulhados em seus desejos esqueceram os ali presentes, senti a aflição da senhora a esperar a ligação no seu celular, senti o medo do jovem rapaz que provavelmente pegava o trem pela primeira vez, e a felicidade dos jovens a conversarem sobre o encontro que teriam no dia seguinte.

    Hoje eu não fui simplesmente eu, hoje eu fui um pouco de cada um dos que perpassaram meu campo existencial. Senti-me pertencendo a um todo. E olhar os objetivos rotineiros humanos me pareceu algo muito insignificante. A felicidade em mim por viver esse todo era muito superior a preocupação de pagar um conta, ou de terminar um relatório ou qualquer baboseira dessas que o ser humano se impõe em prol de nada, aliás, em prol de deixar de viver.

    Desci na ultima estação do trem, o sol se despedia com seus finos raios dourados, beijando meu rosto com suavidade. Ouvi um grilo trilando ao longe. As luzes da rua começavam a acender para iluminar a noite que se acordava com seu véu escuro.

    Eu caminhava em um bairro residencial e as ruas estavam tranqüilas e vazias. Eu via uma grande movimentação dentro das casas, era o barulho da TV, de pessoas conversando e de talheres em movimento. Sentia-me acolhido por aqueles caminhos tão familiares com seus jardins e calçadas floridas.

Naquelas ruas sem nada e a ninguém conhecer, passei em frente a um boteco em que um velho regado a aguardente tocava seu violão tradicional. Fiquei ali, de pé e esquecido de mim, embalado por aquele som que me ninava em doces lembranças da minha infância. Com um sorriso e uma levantada no copo, ele me convidou para eu me aproximar. Não hesitei ao convite e logo sentei-me ao lado dele. O velho começou a cantar uma música suave e dolorida sobre a desilusão de um amor, e começaram a escorrer lágrimas de seus olhos. Chorei junto lembrando de meus recentes amores perdidos. Mas secas ás lágrimas, começamos a cantar hinos de alegria. Juntaram-se a nós mais um e outro e terceiro. O dono da cantina sentou junto a nós naquela mesa de madeira rústica e ali ficamos a cantar e a contar as histórias de nossas vidas, bêbados e felizes, rindo e de vez em quando choramingando algumas dores e nostalgias.  Sempre acompanhados pela viola e a quente aguardente naquela noite fria e estrelada. A lua como um gigante disco dourado espreguiçava-se cheia de vida no horizonte. E com aquele brilho todo ela me convocava a continuar andarilhando aquelas estreitas ruas. Sem despedidas e como gato fugidio sem ser notado, deixei os velhos boêmios em sua algazarra alcoólica.

Ainda com os passos ébrios segui a estreita rua cambaleando de quando em quando. Tropecei derrepente numa pequena caixa que gemeu de forma aguda e dolorosa. Temeroso do que poderia conter a pequena caixa, meus dedos trêmulos a abriram de forma cuidadosa, e encontrei dentro dela - quase sufocado num saco plástico - um pequeno gatinho amarelo malhado de no máximo 2 meses de vida. Meu coração pesaroso segurou o bichano, com todo cuidado possível, colocando-o de encontro ao meu peito para esquentá-lo.

Como poderia alguém dizer-se humano tendo deixado aquele pequeno ser em tal situação?

Segui a rua com o bichano no colo, acariciando suas orelhinhas geladas, e ele retribuía o carinho ronronando baixinho - agradecido e aliviado da situação que escapou. Ao final da rua escutei um som alegre, vozes felizes e risos calorosos a esquentar o silêncio frio daquela noite. Era uma festa de crianças. Conforme eu me aproximava as crianças correram na minha direção, curiosas para saber o que eu trazia no colo. Questionavam o que era, o que tinha acontecido, se estava bem. E ficaram completamente mudas e paralisadas quando eu disse que largaria o bichano no chão para elas o verem.

Quando larguei o gatinho no chão as crianças tinham os olhos muito abertos e fixos nele. Foi um silêncio absoluto. E o bichano por sua vez deu uns três passos bamboleando entre um cai-não-cai, parou estagnado examinando tantos olhinhos a contemplá-lo. Foram alguns segundos de profunda expectativa silenciosa. As crianças quase não respiravam. E o bichano com sua graça e sagacidade felina rompeu o silêncio do momento com um miadinho tão engraçadinho que as crianças de forma uníssona dissiparam a tensão com um esplendoroso: “Ohhhhhhhhh”!!!!

A partir daquele momento o restante foi só festa. Todos queriam pegar o gatinho e o mesmo aceitava sem restrições as pequenas mãos a tocá-lo, aliás, incentivava as caricias sempre ronronando cada vez mais alto parecendo um motorzinho em funcionamento. As crianças correram para a festa me puxando pelos braços enquanto uma delas carregava o gato no colo. Levaram, o gato e eu, para nos apresentar para os pais, donos da casa, em que a festa acontecia, que por sinal eram os pais do menino que carregava o bichano. Chegaram todas berrando ao mesmo tempo emocionadas com o achado. Os pais do garoto comentaram que estavam há algumas semanas procurando um gato para adotar e perguntaram se eu não gostaria de doar o bichano para eles. Fiquei muito feliz com o pedido pois em realidade eu não teria como ficar com mais um gato (pois já tenho quatro em minha casa).  Tal foi a felicidade de todos quando eu disse que doaria o gatinho para eles. As crianças fizeram uma grande algazarra e os pais me convidaram com insistência para que eu ficasse na festa, e sem que desse tempo de eu responder a criançada me arrastou pelo braço para o jardim, enquanto um já me servia refrigerante e outra pegava um doce para me dar.

Ficamos lá degustando as guloseimas quando então eu disse: Temos que pensar em um nome para o gato! Então todos começaram a sugerir: Mimi! Bolinha! Malhado! Leco! Razuna! Pipoca! Mas parecia que nenhum nome agradava a eles e ao bichano. Fizemos silêncio e ficamos olhando para o gato foi quando o mesmo tropeçou numa pequena pedrinha escondida no gramado dando uma cambalhota engraçada. Todos riram muito e o gato miou junto. Então alguém disse: “Tropeço! O nome dele vai ser Tropeço!” E o gato miou ronronando. Todos gostaram da idéia: “Tropeço! Vem Tropeço!” E o Tropeço com o rabo em pé foi. As crianças para comemorar o batizado do gato começaram dançar e cantar criando um hino para ele, que agora seguia embalado a cada momento no colo de algum deles.

Eu dançava com as crianças esquecido de meu tamanho, da minha idade e das máscaras sociais. Sentia meu corpo mover livre, inteiro, presente. E sob minha pele o vento e o tecido brincavam graciosamente sensíveis.

Vendo as crianças entregues em seu bailar, fui me afastando vagarosamente e em silêncio. Tirando retratos com meus olhos e registrando tão linda cena nos arquivos de minha memória. Ao longe dei ainda uma ultima olhadela para trás me despedindo de vez daquelas pessoas que provavelmente nunca mais veria, mas que agora faziam parte da minha história existencial.

Estava cansado mas muito satisfeito. Decidi voltar para a casa e segui em direção a estação de trem. Mas chegando lá não havia mais trem naquele horário e sem dinheiro no bolso tive que seguir a pé alguns bons quilômetros até minha casa. E nesse trajeto eu vi pessoas que passavam fome e frio. Presenciei casais que brigavam, cortando com palavras afiadas, as veias amorosas que um dia tiveram conectadas. Olhei os cães de guardas do Estado cumprindo sua missão de farejar e aniquilar as alegrias alheias. Admirei casais amando-se perdidos entre lábios, abraços, beijos e braços. Lamentei o animal expirar-se em dor embaixo de uma roda de carro mergulhado em suas próprias vísceras e sangue.  Enxerguei o padre furtando a fé e esperanças alheias. Testemunhei as alegrias e desesperos humanos em uma caminhada.

     Há muitos que se queixam das segunda-feiras, mas os mesmos transformam seus dias em suplícios sem sentido, passam seus dias escondidos atrás de gravatas e relatórios, anestesiados por cafeína e o mal gosto de vestir-se e comer o que não desejam. Voltam para suas casas e deixam de viver suas vidas para se entregarem a vida de personagens de novela, ou a tragédias do telejornal, sempre adaptando-se as leis externas, não criam não transformam, simplesmente se arrastam submetidos ao peso do que não é seu...

Muitos dizem que me arrisco, que me exponho em situações de perigo, ainda mais porque sou uma menina. Para esses eu olho com piedade por ver a pobreza e a fraqueza de suas vidas que necessita de proteção constante para se manterem vivos, do contrário sucumbiriam ao primeiro instante de liberdade. Pobre de vocês que não conhecem a vida, suas pernas e almas frágeis não suportariam uma caminhada numa segunda-feira.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ange sans Ailes: TU ES FOUTU!




Tu m'as promis
Et je t'ai cru
Tu m'as promis le soleil
En hiver et un arc en ciel
Tu m'as promis le sable doré
J'ai reçu une carte postale
Tu m'as promis le ciel et la terre
Et une vie d'amour
Tu m'as promis
Ton coeur ton sourire
Mais j'ai eu des grimaces


Tu m'as promis
Et je t'ai cru


Tu m'as promis le cheval ailé
Que j'ai jamais eu
Tu m'as promis le fil d'Ariane
Mais tu l'as coupé
Tu m'as promis les notes de Mozart
Pas des plats cassés
Tu m'as promis d'être ta reine
J'ai eu pour sceptre un balai


Tu m'as promis
Et je t'ai cru


Tu es foutu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu es foutu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu


Je ne sais pas
Ce qui se passe
Mais je sais pourquoi
On m'appelle
Mademoiselle pas de chance


Tu m'as promis
Tu m'as promis
Tu m'as promis


Tu es foutu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu es foutu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu


Tu m'as promis
Tu es foutu
Tu m'as promis
Tu es foutu

ANGE SANS AILES: TU ES FOUTU! 


domingo, 8 de janeiro de 2012

Doloroso inverno afetivo

O inverno chegou em meu coração
E dia após dia deposita-se nele
Uma densa neve
Congelando meus delicados afetos

O inverno é rigoroso
E as portas de minha alma estão cerradas
Meu coração está cinza
E ele já não pulsa mais com a intensidade
Dos amores de outrora

Haverá o dia em que a primavera voltará
Neste frio coração
O gelo se desmanchará
E minha alma chorará
Rios de tristeza e alivio

Enquanto isso sou inércia afetiva
e vivo o silencio amoroso
sepultando ecos de esperanças passadas

Eu jamais quis te machucar
Eu não te ignoro
Apenas estou hibernando
Nossas estações estão em desencontro

Você é o lindo pássaro em vôo
Em direção a luz do Amor
Eu sou a fria Melancolia
de quem perdeu a fé e a esperança

Perdoa-me pelo meu inverno afetivo
E pelas frias e afiadas pontas de gelo
Eu não quis te machucar
Apenas estou congelada
Nossas estações estão em desencontro
E não sei se um dia vamos nos encontrar
As estações mudam, mudam, mudam...
E estamos em lugares contrários
Nossas estações nunca vão se encontrar...