quinta-feira, 21 de julho de 2011

A folha

Caminho desiludida com tanta incompreensão, estou só, mas talvez esse seja o caminho de quem ama, amor altruísta. Com as mãos a esquentar no bolso sigo tranqüilamente nessa tarde fria. Apesar de ser inverno, o sol com seus últimos raios do dia, pinta o céu azul com riscos dourados. Pássaros cantam em sinfonia nas copas das árvores. No embalo da sinfonia esqueço meu corpo parado na rua. Meus olhos levantam a altura da copa das árvores para se encontrar com os autores de tão divina música. Mas o que encontro lá é uma obstinada folha solitária a balançar ao vento fresco. Solitária e teimosa insiste em dançar no meio das verdes estátuas. Pequena solitária bailarina verde.

Naquele instante meus olhos seguraram aquela folhinha, aquela minúscula folhinha que balançava, e naquele seu tremer toda ela dizia: “Olhe estou viva! Eu existo!”. Há quanto tempo ela estava ali? Ela nasceu, cresceu e hoje nesse fim de tarde de céu azul e dourado ela pedia com toda sua existência um momento de ser ela mesma, um momento de ser não uma copa, mas ela: Folhinha! Será que alguém já  havia reparado nessa pequena bailarina? Será que alguém com ela já havia namorado? Disso não saberei tampouco ela me responderá, mas de uma coisa tenho certeza: hoje, ela e eu, vivíamos uma para a outra. Era o nosso momento: meu e dela! Momento sagrado! Meus olhos acariciavam sua pele verde, suas veias de seiva e ela me retribuía com seu bailar vivo esverdeado! Mesmo distantes, ela lá no alto e eu aqui embaixo, trocávamos uma relação de amor e de reconhecimento como seres únicos. 

Talvez realmente, nunca alguém a tenha notado, mas hoje e, talvez somente hoje, ela era única! Talvez eu também! Ela era a folha viva que também preenchia aquela copa, naquela árvore dentre tantas outras, mas aquela!!! Sim! Ela era uma folha muito especial, mas por quanto tempo ela ainda estaria ali? Também não saberia responder...talvez amanhã o vento frio da morte a levaria para outros lugares, para perto da terra, talvez não, mas de qualquer maneira amanhã seria outro dia e mesmo eu passando novamente por essa árvore que carregava um dos amores de minha vida, eu já não a encontraria mais no balançar de tantas outras: folhinha!
                  

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