domingo, 10 de abril de 2011

Ser ou não-ser?

Sou um animal rígido que rasteja com o flanco pisoteado pelo tempo e a injustiça. De alma inflamada e explosiva. Sou o animal faminto de afeto que penetra e se funde no coração generoso. Uma peste que só se extermina com o chute e o desprezo. Sou a necessidade do estagnado. O despertar do adormecido. Em minhas veias correm estradas para um horizonte infinito. Em meus olhos um buraco negro para a melancolia.
Meu sorriso uma criança boba e sonhadora, tímida de alegrias.

Sou o Amor e o Ódio -  lado a lado - em coito em núpcias. A intensidade em cada gesto como o latino fervoroso. Um monstro e a deformação que repugna e enoja. A dor hedionda que culmina no enfermo. Sou o grito silencioso do ser mudo. A putrefação que desmancha os cadáveres. Sou o gozo do estuprador.  A vontade e a mão que estrangula o ser amado.

Sou o raio que eletrocuta a indolência, o martelo exigente de justiça.
Minha língua é a faca que assassina meus ouvintes. Sou o terremoto na cidade dos paradigmas. Sou o futuro concretizado. A visão do possível ainda não praticado. Sou a profecia e a Eternidade reveladas em matéria.

É nas madrugadas em que os vapores mais pútridos exalam de mim. Minha mente se reveste de uma sombra que prenuncia a chegada dos Deuses obscuros, e o lagarto venenoso do medo corre em meu corpo fazendo cócegas sinistras.

Visualizo a faca, e em sua lâmina afiada, brilha a redenção. Jugular extinguindo-se de sua matéria, invadida pela escuridão do nada é a Liberdade e Paz concretizada.

Um sonho proibido pela covardia e o medo. No caminho da proibição sou um verme que rasteja dilacerado e devorado pelas águias da destruição. Sou a presa dos pesadelos da Madrugada. Essa Deusa violenta que se embriaga das almas atormentadas.

Sou a Existência amputada de seu próprio domínio. Um ser extinguindo-se nas dores de seu próprio esquartejamento.

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