Parabéns! Hoje a
criança faz 10 aninhos!
Primeiros anos de vida
uma gracinha, muito amada, cheia de mimos e pequenas festinhas. Sempre o olhar
e o abraço carinhoso a lhe cuidar e ninar. A promessa de um Infinito lhe cobria
a alma.
Os dias passaram, a
rotina acinzenta a vida, os abraços são lânguidos e o olhar distanciado. A
criança já não é o centro. E quanto mais o tempo passava uma certa indiferença
cresceu, um certo descuidado, mas ainda assim uma presença extenuada, mas
presença.
Já pelos seus 5 anos a
coisa realmente era diferente. A criança chorava, exigia, mas nada podia ser
feito por ela. Não havia mais espaço para ela. O Infinito era um engano. Um
desejo limitado cheio de fronteiras. Pequeno. Depois dos 5 anos foi
praticamente abandonada... Viu-se só! Ainda assim continuou tendo fé. O tempo
estava ao seu lado. Agarrou-se aqui e ali...comia sobre o coração
temporariamente quente de algum moribundo, para logo deparar-se com uma carne
dura e fria. Era a morte, essa sempre presente na vida da criança desde então.
E assim, no fim acabava novamente só.
Rolou pelas ruas da
cidade, da vida... voltava a espiar seu passado que estava ali...Porém só
encontrou securas e egoísmos cultivados numa birrenta mágoa. Eram estátuas,
nada a declarar, nada a sentir, nada! Desistiu, seguiu!
Um dia abaixo dos
delírios de sua fome - quando espiou mais uma vez o seu passado - acreditou ver
um movimento...Será verdade? Sussurrou e acreditou ouvir um eco... seu coração
bateu forte... passou um tempo nesse encantamento, sempre emitindo sinais e
ouvindo retornos. Todo seu corpo virou esperança. Ela encontrou novamente a
vida e aquele bom espaço que a acolhesse! Travou diálogos com seu passado sempre
tendo retornos! Era muita alegria!
Porém um dia estranhou,
se deu conta que a coisa não avançava. Mas apenas repetia. O que havia de
errado? Começou a olhar melhor, andou, olhou mais um pouco, andou para o outro
lado e olhou. E então derrepente sentiu seu peito comprimir, uma dor
avassaladora lhe rompeu a alma. Viu um espelho! Não havia nada lá, apenas o
reflexo dela mesma e de sua fé. Todo esse tempo sussurrou e travou diálogos em
sua própria alma. Nada mais!
Viu-se novamente só...
seguiu...Com o tempo, através de sua alma lúdica - aprendeu a se divertir e ter
fé com o espelho. Eram voos sabidamente fadados a penúria. Mas fingia acreditar
para continuar seguindo...
Seguiu, brincou,
cansou...
Já não sabe mais o que
é amor. Dúvida se algum dia soube. Desistiu de viver sobre os corpos de
moribundos, pois já não lhe suporta mais ver a morte.
Hoje ela faz 10 anos,
seu corpo é magro, cadávérico, completamente desnutrido. Essa criança não
brinca mais, não tem mais fé. Sua alma agora é dor e chagas. Seus olhos opacos
não enxergam o mundo. Encolheu em si. Murmura alucinações para seu coração que
sofregamente palpita, devagar, cansado. Tem o tempo ao seu lado, mas não o
espaço.
Nessa noite em
comemoração aos seus 10 anos ela prometeu para si uma festa! Uma passagem que
finalizará todo seu passado, esse o construtor de seu corpo e alma!
Suicida-se
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